por Marisa I. Soster Sartori – Psicóloga CRP 12/13681
Diga sim a vida! Setembro Amarelo é uma campanha de conscientização e prevenção do suicídio para mostrar à população que existe prevenção. O suicídio é considerado um problema de saúde pública e mata 1 brasileiro a cada 45 minutos e 1 pessoa a cada 40 segundos em todo o mundo.
O Setembro amarelo é um movimento estimulado mundialmente pelo IASP – Associação Internacional pela Prevenção do Suicídio. Em 2015, a campanha iniciou no Brasil e foi realizada pelo CVV – Centro de Valorização da Vida; pelo CFM – Conselho Federal de Medicina; e ABP – Associação Brasileira de Psiquiatria, com a proposta de associar à cor ao mês que marca no dia 10 de setembro o Dia Mundial de Prevenção do Suicídio, e tem como propósito dar visibilidade a causa e preservar a vida.
Durante muito tempo, falar sobre suicídio foi tabu, as pessoas tinham receio de abordar o assunto, devido ao preconceito e falta de informação, gerando dificuldades na identificação de sinais ou sintomas, oferta e busca por ajuda.
Atualmente, especialmente com a campanha Setembro Amarelo, esta barreira foi derrubada e as informações ligadas ao tema passaram a ser compartilhadas, possibilitando o acesso das pessoas a recursos de prevenção.
Em estudos realizados pela Unicamp, 17% dos brasileiros em algum momento já pensaram seriamente em dar um fim à própria vida, sendo que desses, 4,8% chegaram a elaborar um plano de execução. Pode-se dizer que em muitos casos, é possível evitar que os pensamentos suicidas se tornem realidade.
A primeira medida preventiva é a educação. Saber quais as principais causas e as formas de ajudar pode ser o primeiro passo para reduzir as taxas de suicídio. No entanto, falar com responsabilidade, de forma adequada e de acordo com a orientação de profissionais de saúde é essencial para que o objetivo de prevenção seja eficaz.
QUEM PODE AJUDAR?
Amigos, parentes, colegas de trabalho ou escola, professores, pessoas próximas a quem precisa de ajuda, e também os voluntários do CVV, que são treinados para auxiliar pessoas que estejam passando por dificuldade e que pensam em tirar sua vida.
Para conversar com um voluntário da CVV, basta ligar para o telefone 188, é gratuito e funciona 24 horas. Também é possível enviar e-mail ou falar pelo chat, acessados pelo site www.cvv.org.br. Também podem procurar profissionais de saúde.
COMO FAMILIARES E AMIGOS PODEM AJUDAR?
🎗Ficar atentos ao Isolamento;
🎗Mudanças marcantes de hábitos;
🎗Perda de interesse por atividades de que gostava;
🎗Descuido com aparência e higiene;
🎗Piora do desempenho na escola ou no trabalho;
🎗Alterações no sono e no apetite;
🎗Transtornos mentais, como: a depressão, transtorno bipolar e abuso de substâncias, entre outras.
🎗Frases como:
- “Preferia estar morto”, “quero desaparecer”;
- “O mundo seria melhor se eu não estivesse nele”;
- “Eu só quero que isso passe”;
- “Não tem mais nada para mim aqui”;
- “Isso nunca vai passar”;
- “Os outros vão ficar melhor sem mim”;
- “Vou desaparecer”;
- “Eu queria poder dormir e nunca mais acordar”;
- “Eu penso em me matar”.
As frases acima podem indicar necessidade de ajuda. Ao perceber que algo está errado, é fundamental conversar com a pessoa, colocar-se à disposição e mostrar o quanto ela não está sozinha. Tente entender como surgiu esse sentimento, converse e a acompanhe ao profissional especializado.
Além disso, a pessoa que está passando por esse momento difícil deve cuidar de seus sentimentos, acolher o que está sentindo, não desvalorizar seus pensamentos e nem pensar que está sozinho. E ressaltamos: Busque ajuda!
O QUE SE DEVE FAZER:
🎗 “Encontre um momento apropriado e um lugar calmo para falar sobre suicídio com essa pessoa. Deixe-a saber que você está lá para ouvir, ouça-a com a mente aberta e ofereça seu apoio. ”
🎗 “Incentive a pessoa a procurar ajuda de profissionais de serviços de saúde, de saúde mental, de emergência ou apoio em algum serviço público. Ofereça-se para acompanhá-la a um atendimento. ”
🎗 “Se você acha que essa pessoa está em perigo imediato, não a deixe sozinha. Procure ajuda de profissionais de serviços de saúde, de emergência e entre em contato com alguém de confiança, indicado pela própria pessoa. ”
🎗”Se a pessoa com quem você está preocupado(a) vive com você, assegure-se de que ele(a) não tenha acesso a meios para provocar a própria morte (por exemplo, pesticidas, armas de fogo ou medicamentos) em casa. ”
🎗”Fique em contato para acompanhar como a pessoa está passando e o que está fazendo. “
O suicídio pode ser definido como um ato deliberado executado pelo próprio indivíduo, cuja intenção seja a morte, de forma consciente e intencional, usando métodos que acredita ser letal. No entanto, o pessoa não quer morrer, ele quer terminar com o sofrimento.
O comportamento suicida são os pensamentos, os planos e a tentativa de suicídio. As causas são multifatoriais e resultantes de interação de fatores psicológicos e biológicos, inclusive genéticos, culturais e socioambientais. Dessa forma, é importante considerar como um desfecho de uma série de fatores que o indivíduo acumula em sua história.
O QUE NÃO SE DEVE FAZER:
🎗Não condenar/ julgar: “Isso é covardia”; “É loucura”; “É fraqueza.”
🎗Não banalizar: “É por isso que quer morrer?; Já passei por coisas bem piores e não me matei”.
🎗Não opinar: “Você quer chamar a atenção”; “Te falta Deus”; “Isso é falta de vergonha na cara”.
🎗 Não dar sermão: “Tantas pessoas com problemas mais sérios que o seu, siga em frente”;
🎗Não falar simplesmente frases de incentivo vazias: “Levanta a cabeça, deixa disso”; “Pense positivo”; “A vida é boa”.
O QUE PODE IMPEDIR A DETECÇÃO PRECOCE E A PREVENÇÃO DO SUICÍDIO?
Durante séculos de nossa história, por razões religiosas, morais e culturais, o suicídio foi considerado um grande “pecado”, talvez o pior deles. Por esta razão, ainda ocorre medo e vergonha de falar abertamente sobre esse problema de saúde pública. O estigma e o tabu relacionados ao assunto, assim como a dificuldade em buscar ajuda, a falta de conhecimento e de atenção dos profissionais de saúde, tais fatores condicionam barreiras para a prevenção.
A prevenção do suicídio não se limita à rede de saúde, mas sim de diversos âmbitos na sociedade, que poderão colaborar para a diminuição das suas taxas. A prevenção também deve ser um movimento que leve em consideração o indivíduo como um todo em sua complexidade, em seus aspectos biológico, psicológico, político, histórico familiar e genética, social e cultural, no qual ele está inserido.
Se você ou algum familiar tem dificuldades de regulação emocional e crises recorrentes, busque ajuda de um profissional de saúde, para que você possa viver uma vida com maior flexibilidade, harmonia, saúde e bem-estar.
Setembro amarelo, todos podem ser divulgadores desta campanha e contribuir para a conscientização e prevenção do suicídio. Não ignore um pedido de ajuda, fique atento aos sinais. Todos juntos pela vida!
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Marisa Ivete Soster Sartori é psicóloga com especialização em Terapia Sistêmica Individual, Conjugal e Familiar, Psicologia Clínica e Sexualidade Humana. Atua com atendimento clínico: individual, familiar e casal.
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Fontes:
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PSIQUIATRIA: suicídio: informando para prevenir. Disponível em: https://www.hsaude.net.br/wp-content/uploads/2020/09/Cartilha-ABP-Preven%C3%A7%C3%A3o-Suic%C3%ADdio.pdf. Acesso em: 17 ago. 2022.
MINISTÉRIO DA SAÚDE. Suicídio: saber, agir e prevenir: cartilha com dicas para profissionais de saúde e população. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/suicidio_saber_agir_prevenir.pdf. Acesso em: 17 ago. 2022.
OPAS – Organização Pan-americana da Saúde. Disponível em: https://www.paho.org/pt/search/r?keys=suicidio+e+grave+problema+de+saude+publica+e+sua+prevencao+deve+ser+prioridade+afirma+opas+oms+Brasil. Acesso em: 17 ago. 2022.
MINISTÉRIO DA SAÚDE – Biblioteca Virtual em Saúde. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/setembro-amarelo-e-dia-mundial-de-prevencao-ao-suicidio-10-9/. Acesso em: 17 ago. 2022.
CVV – Centro de Valorização da Vida. Disponível em: https://www.setembroamarelo.org.br/prevencao/. Acesso em: 17 ago. 2022.